Śrī Rāma-Navamī

Sri Gaura Purnima
24 de março de 2024

Dandavats Pranamas! Todas as glórias a Sita-Rama! Em 16 de abril de 2024 celebramos Rama-Navami, o dia do aparecimento transcendental do Senhor Ramacandra! Este é também o dia em que Rama retorna com Sita do seu exílio para Ayodhya. Estamos muito felizes em apresentar esta belíssima aula dada por Srila Gurudeva, Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja, que contém profundos ensinamentos, proferida em Mathura, na Índia, na ocasião de Rama-Navami, em 12 de abril de 2000.

Hoje é prescrito observar jejum até o meio-dia, após ingerir somente preparações de Ekādaśī.

O Senhor Ramacandra e Sua eterna consorte Sita-Devi

O Senhor Ramacandra e Sua eterna consorte Sita-Devi

Rama-katha é inexaurível! Sankarsana (Senhor Anantadeva) canta continuamente as glórias de Sri Rama, porém, mesmo com bocas ilimitadas, ele é incapaz de esgotar tais glorificações. Podemos apenas apreciar, e orar para que estes passatempos infinitos se manifestem em nossos corações. Tulasi dasa escreveu o Rama-caritra-manasa, que é baseado no Ramayana do Sri Valmiki. Todos os passatempos escritos por Tulasi Dasa vêm do Ramayana e outros Puranas, mas os princípios de bhakti contidos em tais escrituras foram retirados do Srimad-Bhagavatam. Ele apresentou alguns versos importantes, especialmente a partir do décimo primeiro canto, e os traduziu de forma poética e em Hindi.

Algumas pessoas consideram Tulasi dasa um mayavadi, mas isso é falso. Se estudarmos Rama-caritra-manasa cuidadosamente, veremos que Tulasi dasa escreveu os mesmos princípios contidos no Srimad-Bhagavatam. Deus é pessoal, as entidades vivas são Suas partes integrantes, e nossa posição constitucional eterna é servi-Lo com amor e carinho. Outro ponto importante é que Tulasi dasa não poderia ter escrito o Rama-caritra-manasa, a menos que ele realmente tivesse a visão de todos esses passatempos de Rama. Assim como Valmiki recebeu a misericórdia de Narada Muni, da mesma forma, quando Tulasi dasa sentou-se em transe, todos os passatempos adentraram seu coração. Ele certamente recebeu a misericórdia de Vyasadeva. Somente pela misericórdia de Sri Vyasadeva ele poderia ter escrito esses passatempos.

O tema principal desta aula é “anyavilasita sunyam”, ou libertar-se de qualquer tipo de desejo que não seja satisfazer Krsna. Bharata e Satrughna tinham ido a casa de seu tio materno, e ao retornarem para Ayodhya, eles notaram um grande silêncio. A cidade costumava ser alegre e tantas atividades interessantes aconteciam, mas agora se assemelhava a uma senhora cujo marido está morto, sem quaisquer decorações ou ornamentos. Vendo esses e outros sinais inauspiciosos, Bharata e Satrughna ficaram com medo. Quando eles entraram no palácio real e foram para o quarto de Kaikeyi, eles ficaram surpresos ao ouvir que Rama tinha partido para a floresta e permaneceria lá por 14 anos, e por causa disso, seu pai tinha morrido com o coração partido. Quando Bharata ouviu esta notícia e a razão para tal, ele se tornou completamente hostil com sua mãe. Do âmago de seu coração, ele se desligou e cortou seu relacionamento com ela, e por ter ficado chocado e se sentido ferido, a tratou de forma áspera e a abandonou.

O tema principal desta aula é 'anyavilasita sunyam', ou libertar-se de qualquer tipo de desejo que não seja satisfazer Krsna.

O tema principal desta aula é ‘anyavilasita sunyam’, ou libertar-se de qualquer tipo de desejo que não seja satisfazer Krsna.

A seguir, Bharata reuniu os cidadãos de Ayodhya, incluindo Kausalya e Vasistha Rsi, com o objetivo de ir para a floresta na  tentativa de trazer de volta o Senhor Rama. Porque ele agora era o membro mais velho da família, tornara-se o responsável pela tomada de decisão sobre o que fazer. Maharaja Janaka  planejava um Sabha no dia seguinte, um encontro em uma assembléia. A fim de se preparar, Bharata primeiro foi até Mãe Kausalya e pediu-lhe: “Oh mãe, Rama lhe ama e sempre obedece suas ordens. Você sente tanta saudade dele, e todos nós o queremos de volta. Por favor, peça-lhe para voltar, e em grande felicidade governar Ayodhya.” Quando Kausalya ouviu estas palavras, disse gravemente: “Sim, você está certo. Eu também desejo isso, mas não posso fazer o que me pede. Sua sugestão não é contra o dharma, mas veja a posição de Rama agora. De acordo com os princípios religiosos, Ele também está tentando executar a ordem de seu pai. A partir de suas respectivas posições,  ambos estão tentando agir com retidão. Sinto muito, mas sei que ele nunca mudará sua posição, então não há nada que eu possa fazer.”

Desapontado, Bharata fora procurar por seu Gurudeva, Vasistha Muni, e lhe fez o mesmo pedido. Ele disse: “Se você pedir a Rama, Ele voltará, e você será a causa da felicidade de todos.” A resposta de Vasistha Muni foi semelhante a de Kausalya, mas apresentou uma alternativa. Ele disse: “Ao invés de Rama, se você mesmo concordar em ir para a floresta, talvez eu possa trazê-lo de volta a Ayodhya. Alguém deve ir, então você pode fazer isso.” Bharata com muito entusiasmo concordou, mas quando Vasistha apresentou a proposta para Rama, ele não mudou sua decisão. Mais uma vez, Bharata ficou decepcionado.

Bharata pensava que havia lhe restado apenas um único abrigo, que era Sunaina devi, a esposa de Maharaja Janaka. Ele a visitou na noite anterior ao Sabha, e muito educadamente suplicou a seus pés: “Mãe, você não se preocupa com  sua filha? Ela é tão delicada e sensível, e está indo para a floresta para permanecer por 14 anos, onde passará por austeridades severas. Eu sei que o seu coração é muito suave e você não suportará essa dor. Você deve fazer algo para ajudá-los “. Sunaina respondeu: “O que você está dizendo é o que desejo. Mas meu marido é estritamente rigoroso e nunca mudará sua mente, nem ouvirá minhas palavras. Ele considerará ambos os lados, de acordo com os princípios da religião, e então decidirá. Ele é uma alma liberada, e ninguém pode influenciá-lo.” Porque Janaka Maharaja era um jnani-bhakta, um devoto com alguma aisvarya (opulência), ele acreditava que Rama não passaria por nenhum problema, em qualquer lugar que estivesse. Bharata ficou novamente decepcionado, e não havia mais nada que pudesse fazer.

Ela (Sita) é tão delicada e sensível, e está indo para a floresta para permanecer por 14 anos, onde passará por austeridades severas. Eu sei que o seu coração é muito suave e você não suportará essa dor. Você deve fazer algo para ajudá-los "

Ela (Sita) é tão delicada e sensível, e está indo para a floresta para permanecer por 14 anos, onde passará por austeridades severas.

Na manhã seguinte, Guru Vasistha convocou a assembléia. De um lado, o Senhor Rama estava sentado com Sita devi, do outro lado Bharata estava sentado com todos os cidadãos de Ayodhya, e Maharaja Janaka estava na ásana localizada no meio, para julgar o caso e tomar uma decisão. Na noite anterior, todos tinham concordado em cumprir a ordem de Maharaja Janaka porque ele conhecia os princípios da religião e era imparcial quanto a isso.

Ele primeiro perguntou a Bharata: “Qual é a sua proposta? Por favor, fale.” Com as mãos postas, Bharata disse: “Tudo que quero é que o Senhor Rama volte para o seu reino. Seu pai deu sua ordem, mas em circunstâncias infelizes. Maharani Kaikeyi também foi influenciada, e participou desta decisão. Isto não deve ser considerado como a decisão final, porque agora podemos ver que não há nenhum propósito real para eles irem para a floresta. Não aceitarei a posição de rei. Pelas evidências, esta pertence a Rama. Isso é o que todos os cidadãos querem, e eu também quero. Será uma grande injustiça se nós o enviarmos para a floresta e lhe privarmos desta posição.”

Maharaja Janaka estava em silêncio. Ele então virou-se para o Senhor Rama e pediu-lhe para falar. Rama, em seguida, disse: “Sim, você ouviu o que Bharata disse. Meu pai concordou com a ordem de enviar-me para a floresta e dar a posição de rei a Bharata. Mãe Kaikeyi também concordou, e meu pai ficou em silêncio. ‘Maunam sammithi laksanam. O silêncio é o sintoma de concordância ou consentimento.” Agora Kaikeyi quer retirar sua declaração, mas isso não pode ser aceito. Por quê? Porque meu pai não está mais aqui. Se ele estivesse aqui e permanecesse em silêncio, então eu poderia concordar. Mas essa não é a realidade. Isso é o que eu tenho a dizer. “

 A corrente do amor não considera quaisquer obstáculos no caminho. Ela atravessa todas as regras e regulamentos em geral, e não existe qualquer princípio religioso que possa controla-la. O amor tem suas próprias leis e costumes.

A corrente do amor não considera quaisquer obstáculos no caminho. Ela atravessa todas as regras e regulamentos em geral, e não existe qualquer princípio religioso que possa controla-la. O amor tem suas próprias leis e costumes.

Maharaja Janaka fechou os olhos em silenciosa meditação, e foi até seu Gurudeva, o Senhor Sankara. Após retornar de sua meditação, muito seriamente começou a falar: “Sim, o que Bharata disse é verdadeiro e está de acordo com os princípios religiosos. Ele está falando com um sentimento puro de amor. Seu prema por Rama é muito profundo, como um oceano, e a maryada de Rama, sua adesão ao dharma e rigor em seguir os princípios da religião, é como uma montanha. O oceano do amor de Bharata é tão profundo, que a montanha afundará neste oceano! Bharata ganhou, e qualquer que seja sua decisão deve ser executada.” Quando todos ouviram falar que Rama voltaria, começaram a pular em êxtase, e Bharata também estava muitíssimo feliz!

Porém, Maharaja Janaka tinha algo mais a dizer. Todos podiam ver que ele ainda estava muito grave, e eles aguardavam para ver o que viria de sua boca. Ele, então, disse: “Embora o oceano do amor de Bharata seja tão profundo que a montanha de maryada de Rama se afogue nele, ao mesmo tempo esta montanha é tão forte que não se desviará nem mesmo uma polegada, mesmo que se afogue na água. Ela permanecerá em sua posição. Rama pode ser derrotado pelo amor de Bharata, mas ele não se moverá. “

Então ele olhou para todos e disse: “Agora Bharata deve considerar este ponto. É fato que  seu amor venceu, e não existe nenhuma comparação a esse amor, mas ele deve conhecer o princípio do amor. A corrente do amor não considera quaisquer obstáculos no caminho. Ela atravessa todas as regras e regulamentos em geral, e não existe qualquer princípio religioso que possa controla-la. O amor tem suas próprias leis e costumes.”

“Sobre o coração e o tema do amor, quem ama sempre será muito cuidadoso com os desejos do seu amado. Ele não irá impor suas vontades sobre quem ama, mas ao invés disso, observará minuciosamente o que sua adorável deidade deseja. Isso é o que deve ser visto e compreendido.  Então, minha pergunta a Bharata é: “Você tenta compreender o que Rama quer, ou você é dominado por seus próprios desejos? Você pensa: ‘Se eu for mal sucedido em trazer Rama de volta, então todos os cidadãos me criticarão. Talvez eu esteja fazendo isso por minha própria reputação.’ Pensar somente no que satisfaz Rama, este é o princípio do amor verdadeiro.”

Quando todos ouviram isso, especialmente Bharata, era como se a terra tivesse deslizado por debaixo de seus pés. Por alguns instantes a respiração de Bharata parou, e era como se ele tivesse ficado surdo e mudo. Maharaja Janaka continuou: “Agora você deve decidir o que fazer Seu caso é difícil e você ganhou. Você deve dizer a Rama o que você quer que Ele faça.”

"O coração e o tema do amor é que, quem ama, sempre será muito cuidadoso com os desejos do seu amado. Ele não irá impor seus desejos sobre seu amado, mas ao invés disso, observará minuciosamente o que sua adorável deidade deseja. Isso é o que deve ser visto e compreendido. Então, minha pergunta a Bharata é: "Você tenta compreender o que Rama quer, ou você se torna controlado por seus próprios desejos? Você pensa: 'Se eu for mal sucedido em trazer Rama de volta, então todos os cidadãos me criticarão. Talvez eu esteja fazendo isso por minha própria reputação.' Apenas pensar no que satisfaz Rama, isso é o princípio do amor verdadeiro."

“Sobre o coração e o tema do amor, quem ama sempre será muito cuidadoso com os desejos do seu amado. Ele não irá impor seus desejos sobre o amado, mas ao invés disso, observará minuciosamente o que sua adorável deidade deseja. Isso é o que deve ser visto e compreendido. Então, minha pergunta a Bharata é: “Você tenta compreender o que Rama quer, ou você se torna controlado por seus próprios desejos? Você pensa: ‘Se eu for mal sucedido em trazer Rama de volta, então todos os cidadãos me criticarão. Talvez eu esteja fazendo isso por minha própria reputação.’ Apenas pensar no que satisfaz Rama, isso é o princípio do amor verdadeiro.”

Bharata obteve o maior choque de sua vida. Todo o seu sistema nervoso estava abalado devido a esta lição sobre o amor, e seu coração e pensamento foram completamente alterados. Quando ele se aproximou de Rama, que compreendia o humor e gravidade de seus sentimentos, Rama disse: “Sim, você ganhou. Você quer que eu governe o reino, então eu aceito o seu pedido. Serei o Rei de Ayodhya. Desde que agora sou o rei, você deverá seguir minhas instruções. O que você deve fazer? Você precisa deixar-me ir para a floresta e cumprir as ordens de nosso pai. Em favor a mim, enquanto estiver na floresta, você deve ser meu representante e realizar os deveres necessário ao reino.”

Tantos sentimentos opostos estavam vindo em seu coração e saltando, mas ele aceitou a ordem de Rama, porque agora compreendia o significado do amor. Mesmo que se tenha que beber veneno para agradar o amado, deve-se fazer isso. Esta é a prova do amor puro.

Tantos sentimentos opostos estavam vindo em seu coração e saltando, mas ele aceitou a ordem de Rama, porque agora compreendia o significado do amor. Mesmo que se tenha que beber veneno para agradar o amado, deve-se fazer isso. Esta é a prova do amor puro.

Bharata aceitou isso, e nós não podemos compreender que tipo de felicidade ele estava sentindo. Tantos sentimentos opostos estavam girando em seu coração, mas ele aceitou a ordem de Rama, porque agora compreendia o significado do amor. Mesmo que se tenha que beber veneno para agradar o amado, deve-se fazer isso. Esta é a prova do amor puro. Da mesma forma, quando Kaikeyi foi solicitada por Rama para bani-lo e dar o reinado a Bharata, seu coração se partiu e ela gritou: “Não, Rama. Eu não posso fazer isso.” Por que não? Ela ama Rama mais que Bharata. Como ela pôde fazer isso? Rama obrigou-a. Ele a forçou, dizendo: “Você deve beber este veneno mãe, porque é para o bem-estar de todo o mundo. Este é meu propósito ao vir aqui, então você deve fazer isso.”

Assim, Bharata recebeu a coroa de Rama, Suas sandálias de madeira, e Sua Rajai. Rajai é uma palavra em Hindi. A maioria das pessoas, aqueles que não são dedicados à forma pessoal do Senhor Rama, acham que Rajai significa apenas ‘colcha’. Eles dizem: ‘Veja como Bharata é tão cruel! Rama tem que ir para a floresta, e Bharata pega suas sandálias e sua coberta.’ Mas aqui Rajai não significa coberta. Ela vem da palavra raji, que significa ‘concordar’. Bharata recebeu as ordens de Rama, para atuar como seu representante e administrar o reino em sua ausência.

Aqui há uma lição muito importante para todos os que estão praticando bhakti. Ouvimos o sloka “anyavilasita sunyam”, e podemos olhar de forma crítica para o âmago de nossos corações e considerar: “O que estou fazendo? Estou tentando servir a Krsna da forma como  minha mente gosta de servi-Lo ?? É algo muito sutil , porque a mente é enganadora. Se não formos capazes de distinguir entre esses sentimentos, então anyavilasa, desejos materiais, cobrirão nossa bhakti e não haverá nenhuma maneira de avançarmos. Hoje, cerca de noventa e nove por cento dos devotos são assim . Alguns fazem isso deliberadamente, e alguns não conseguem distinguir a diferença. Se Gurudeva lhes pede para fazer alguma coisa que não está agradando a mente deles, eles sentem raiva ou ficam chateados. Isso está prevalecendo na maioria dos casos. Temos que observar isso com muito cuidado e tentar expulsar este anyavilasa.

Bhakti não é tão barato. Estamos buscando conquistar esse amor que controla tanto Srimati Radhika e Krsna, mas é preciso entender o preço que temos que pagar por isso. Temos que abandonar tudo que consideramos pertencer a nós. Não temos nenhuma existência separada. O sentimento de renúncia pura, incondicional, isso é tão profundo que nos tornamos unos com o humor de Gurudeva. Então, dentro de nossos corações, todas as aspirações não são mais  nossas aspirações. Elas são aspirações de Gurudeva, ou aquelas de Hari, Guru e Vaisnava. Este é o estado que queremos alcançar, e a menos que conquistemos isso, não haverá nenhuma maneira de avançar em bhakti.

bharata adora as sandálias

Estamos buscando conquistar esse amor que controla tanto Srimati Radhika e Krsna, mas é preciso entender o preço que temos que pagar por isso. Temos que abandonar tudo que consideramos pertencer a nós. Não temos nenhuma existência separada. O sentimento de renúncia pura, incondicional, isso é tão profundo que nos tornamos unos com o humor de Gurudeva.

Seja qual for a posição que queiramos alcançar na eterna Vraja, temos que começar a praticar aqui com Gurudeva. Temos que realizar este verso, anyavilasita-sunyam. Srila Bhaktivinoda Thakura escreveu: “Eu alegremente misturei todos os meus desejos com os Seus desejos. Meus desejos seguem Seus desejos. Não existe diferença. Eles não vão, nem mesmo um pouquinho, em uma direção diferente. Eles são completamente unos com Seu desejo .” Isto é o que nós queremos.

Maharaja Bharata então retornou para Ayodhya com todos os seus cidadãos, e ele trouxe as sandálias do Senhor Rama. Havia tanta dor e tristeza em torno de si que ele não entrou no reino. Ele agiu como um representante e hospedou-se em uma aldeia próxima a cidade, chamada Nandigrama. Lá, ele fez uma pequena cabana, como a cabana de Rama na floresta, e vestiu-se como um renunciante, assim como Rama. Ele não cortava o cabelo, e vivia apenas com frutas ou o que quer que estivesse disponível na floresta. Ele colocou essas sandálias de madeira sobre um altar e começou a adorá-las, como se estivesse adorando Rama. Ele realizava arati, oferecia bhoga, e tomava todas as decisões após consultar essas sandálias de madeira. Todos os seus ministros também iam até lá para discutir as decisões do reino.

Ele colocou essas sandálias de madeira sobre um altar e começou a adorá-las, como se estivesse adorando Rama. Ele realizava arati, oferecia bhoga, e tomava todas as decisões após consultá-las.

Ele colocou essas sandálias de madeira sobre um altar e começou a adorá-las, como se estivesse adorando Rama. Ele realizava arati, oferecia bhoga, e tomava todas as decisões após consultá-las.

Certa vez mãe Kaikeyi aproximou-se dele. Agora ela sofria ainda mais, porque sentia  separação de dois filhos. Se Bharata estivesse com ela, existiria algum consolo, mas ela havia perdido os dois. Ninguém podia compreender seu sentimento de infelicidade. Ela subiu em um palanquim e chamou os guardas que estavam lá, porque Bharata raramente saía. Ele estava sempre absorto em separação de Rama. Quando ele foi informado de que Mãe Kaikeyi tinha vindo, ele disse: “Tudo bem, peça-lhe por favor para entrar.” Ele nunca havia chamado-a de ‘mãe’. Ele só a considerava como Raja Mata, não como sua mãe. Quando ela apareceu diante dele, ela começou a chorar em profunda dor e tristeza: “Por favor, me perdoe. Eu realmente cometi um grande erro. Minha inteligência foi coberta pela ignorância, e eu falhei, não conseguindo usá-la. Por favor, volte para Ayodhya e fique comigo.” Bharata disse: “Oh rainha Kaikeyi,  isso é o que você merece. Você deve experimentar esta dor repetidas vezes. Este é o preço que você tem que pagar.”

Ela disse: “Bharata, você não compreende minha posição, eu tenho que ficar neste palácio, e estou sendo atacada por escorpiões. Isso é tão doloroso, que não posso tolerar mais.” Bharata era tão forte e dedicado ao dharma que não concordava. Então ela disse: “Ao menos me chame de mãe, por favor. Isso me dará algum consolo.” Bharata respondeu: “Não posso pronunciar essa palavra para você nunca mais. Não é possível.”

‘Jinike priye na rama videhi.’ Este verso do Rama-caritra-manasa é uma tradução de um verso do Bhagavatam, que significa que se deve abandonar a esposa que não é favorável a bhakti, deve-se abandonar o marido que está atuando como um obstáculo no caminho da devoção, deve-se abandonar pai, filho, irmão e assim por diante. Qualquer relacionamento que obstrui bhakti deve ser abandonado. Vibhisana abandonou seu irmão Ravana, porque ele tinha amor por Rama, Prahlada desistiu de seu pai Hiranyakasipu, e Bali Maharaja desistiu de seu guru.

Mirabhai escreveu uma carta a Tulasi dasa sobre sua situação a respeito do seu desempenho nas atividades devocionais para Krsna. Sua família e, especialmente, seu marido, o Rana de Mewar, foram desfavoráveis. Ele sempre suspeitava que ela tinha alguma ligação ilícita com um homem, mas ela estava absorta de amor por Giridhari. Ela escreveu: “Eu não posso tolerar mais nada. Eles estão me torturando. Eles me deram veneno, eles tentaram fazer uma cobra me morder, e eles me insultam. Por favor, oriente-me.” Tulasi dasa escreveu esse verso para ela, e embora ele não tivesse instruído-a especificamente, ela entendeu sua mensagem.

Um dia, ela estava profundamente absorta, dançando e cantando em kirtana, com as portas fechadas e Giridhari lá. O rei ouviu-a cantando em grande júbilo, e ele também ouviu alguém tocando uma flauta. Com muita raiva, com a espada na mão, ele tentou entrar no quarto, mas ela não ouviu. Krsna estava tocando a flauta, então como seria possível para ela ter qualquer consciência externa? Quando o rei entrou, ele viu que não havia ninguém com ela, e Mirabai desmaiou. Ele procurou por todos os cantos pelo homem que estava tocando a flauta. De alguma forma ele despertou Mirabai, e perguntou-lhe com palavras duras: “Onde está o homem que você escondeu aqui?” Mirabai disse: “Você não pode vê-lo? Ele está bem ali.” “Eu não posso vê-lo”, disse ele. Então Mirabai misericordiosamente colocou a mão em seus olhos e, pelo toque de seus dedos, o Rana foi capaz de ver a estonteante forma de Krisna curvada em três partes tocando Sua flauta. Agora, recebendo o darsana, ele foi humilhado, e  também desmaiou. Nesse meio tempo, Krsna desapareceu, e quando Rana voltou à consciência, ele se arrependeu amargamente. Lamentando, ele caiu aos pés de Mirabai e novamente pediu perdão. Ele disse: “Eu fui tão ofensivo e tolo.”

Porque ela tinha sofrido tanto, ela não teve nenhuma reação às palavras dele. Ela estava decidida a ir para Vrndavana. Explicou que o que tinha acontecido já estava feito, e nada poderia detê-la agora. Cantando “Giridhari Gopal,” ela partiu para Vrndavana. Lá ela conheceu Srila Jiva Gosvami e recebeu gopal-mantra dele. Ela foi uma verdadeira discípula de Jiva Gosvami? Não, ela era uma “meia discípula”, porque ela acabou em Dvaraka. Ela disse: “Eu só vejo Krsna. Eu não vejo mais ninguém.” Sua visão não era tão ampla para que pudesse ver as gopis. Ela falhou em aceitar a orientação das gopis, e por isso ela não não obteve nenhuma posição em Vraja. Ela foi para Dvaraka, e lá ela entrou na deidade de Dvarakadisa e nunca mais saiu.

Este é um ponto muito importante para aqueles que querem o serviço ao Divino Casal em Vraja, mas que pensam que podem alcançá-lo, seguindo todos os princípios de vaidhi-bhakti. Eles estão meditando sobre Dvaraka-lila, e ainda querem o serviço de Radha-Krisna em Vraja. Porque eles meditam de tal forma, não obterão nenhuma posição em Vraja.

Se um marido está de alguma forma seguindo bhakti, ele ficará muito feliz se a esposa de alguém entrar na vida espiritual e, tornando-se completamente rendida, abandonar sua casa. No entanto, em se tratando de sua esposa, ele não poderá tolerar isso. E o mesmo com a esposa. Se o marido de alguém torna-se tão absorto que desiste da vida familiar, ela dirá: “Oh, isso é bom. Vocês são tão afortunados. Você se tornou um devoto puro e toda sua família  será liberada.” Mas quando se trata de seu próprio marido, ela não pode tolerar. O mesmo com um filho ou pai. Isso é algo ruim e não deve ocorrer. Ninguém permanecerá neste corpo. Devemos tentar usar nosso poder de discernimento para entender o propósito da vida.

Jay Sita-Rama ki! Jay!!!
Jay Sri Ramacandra ki! Jay!!!
Gaura Premanande! Haribol!!!